Era o céu que eu via deitada, com ele em cima de mim, mas isso não tinha nada de romântico. Minha cabeça tinha acabado de ser expulsa do carro porque não havia espaço para ela ali dentro. Isso me pareceu conveniente porque eu não estava mesmo usando muito o cérebro naquele momento. Eu achei divertido, mas o céu não era romântico. E por que essa cobrança do romântico agora? Foi divertido e acabou. Quando dá lá a vontade maluca de transar com alguém, seu cérebro, seu coração, algum órgão do seu corpo pede para você parar porque não será romance e apenas sexo? Não, você fica burra e cardíaca e o único movimento ordenado do seu corpo é se molhar e se abrir. Então não me venha com essa de romance agora.  Era o céu que eu via, um pouco nublado, se chovesse naquele momento ia ser lindo, mas não seria uma chuva romântica. Não poderia ser : as pernas dele estavam para fora da janela do motorista, aquilo era ridículo, muito engraçado, e a chuva não poderia ser romântica. Foi se aproximando, aproximando, meu joelho anestesiou depois de tanto bater no freio de mão, o chão era o teto do carro e a sensação maluca do mundo de pernas para o ar somada a movimentos perfeitos aproximavam num ritmo saudável o meu sempre atrasado prazer. Um fenômeno da natureza chamado chuva e outro chamado orgasmo pareciam chegar juntos, escurecendo o céu gradativamente. Eu queria demonstrar o quanto aquilo era bom numa recompensa criativa e com um tom mais alto de espasmos verbais, mas estava sem espaço e acuada numa cabine nojenta de um drive in nojento. Aquilo definitivamente não era romântico.
O que era a cor daqueles olhos? O que era aquele cabelo pingando suor em meus seios? Mãos dadas e a nossa música tocando. Nossa música? Eu já estava raciocinando romanticamente achando que tínhamos uma música. Parecia ser romântico sim, acho que ele estava só de tênis, alguém gritava alguma coisa desconexa em algum lugar daquele pulgueiro e a camisinha vagabunda tinha cheiro de morango. Não querida, era só sexo mesmo. Foi se aproximando, aproximando, até que ficamos abobados e o céu abriu em estrelas. Até que o pé caiu do chão de teto e abraçou um corpo suado deslizando até o banco. Até que meu escapulário enroscou no meu cabelo e ele teve um ataque de riso que me fez gostar mais dele. Até que o CD parou de tocar e só restava no mundo a nossa respiração tentando reencontrar o equilíbro. Até que ele não se levantou depressa, cheio de medos, bloqueios e estranhices. Ficou abraçado comigo. Me beijando, quieto. Abraçado comigo. Sim, era romântico estar ali. Ele se levanta depressa, arranca a camisinha e grita cestaaaaaaaa acertando o lixo lá fora. Aumenta o som e começa a me mostrar o que aprendeu na aula de bateria : batuca no volante, no teto, na minha perna, na minha barriga, não, na minha cabeça não. Meu Deus, o que eu estava fazendo ali? Será que ele só ficou abraçado comigo porque o carro era pequeno e não tinha espaço para ele virar de lado e começar a roncar ou se levantar rápido cheio de compromissos e culpas? Eu estava traumatizada com homens frios. Mas ali dentro fazia um calor desumano. Será que o calor havia nos unido por aquele tempo porque levantar depressa seria propício demais a um desmaio? Ele pára os batuques, me olha carinhoso. Diz que tenho um olhar blasé que o enche de paz. A vontade de gostar dele volta tão forte e assustadora que torço para ele falar uma besteira grosseira. Ele me abraça e volta a me beijar. Fico no colo dele um tempo. Ele me olha, olha, eu comento que nunca fiquei tão mole em toda a minha vida, querendo dizer o quanto ele me dava tesão, emoção, o quanto ele tinha poder sobre mim. O quanto eu era frágil ali no colo dele. Ele sorri, me dando uma beliscadinha cafajeste na bunda: "E eu nunca fiquei tão duro em toda a minha vida". 
Que bom que não era romance, que bom que não era só sexo. Era uma aventura num drive in, a última, espero. Da próxima vez vou aceitar o convite para o motel cinco estrelas e não dar nenhuma idéia maluca.