
Essa geladeira de merda do hotel só tem água e cerveja. Sendo que a água custa seis reais. Uma garrafinha de merda! E pra piorar tem uma camisinha na cabeceira da cama. Motel e hotel no Rio de Janeiro são a mesma merda? Outro dia achei uma mancha “sinixxxxxtra” no meu edredon. Quero minha casa, quero minha mãe. Quero a geladeira da minha mãe, com frutas cortadas. Quero meu personal, a moça que me faz drenagem, a minha aula de yoga, os meus amigos da Ed. Abril, das agências que trabalhei. Quero minha cama com borboletas coloridas em cima, não esse quadrinho vagabundo com o Pão de Açúcar aquarelado. Ao lado da minha cama eu tinha preces budistas e não um pacote de camisinhas. É triste morar em hotel. Longe de casa, da Lolita, dos meus amigos, das frutas picadas e da minha mãe. E aturar os cariocas tirando sarro de absolutamente tudo da minha existência. E eu só querendo um pouco de colo, um lençol que tenha meu cheiro. Sei la. Eu era escrota porque tinha mãe. Porque eu me sentia bonita mesmo descabelada, porque eu me sentia inteligente mesmo rebolando pra fazer graça pra ela. Porque se eu acordasse no meio da noite achando que ia morrer, era só ligar que ela vinha correndo. Nunca morri, mas vai que um dia eu morro! Pior seria morrer nesse quarto de hotel, entre as camisinhas, as águas caras e esse edredon sinixxxxtro. E longe da minha mãe. Eu era escrota porque morava a dez minutos da minha mãe, agora que moro há 55 minutos de Varig e 48 de TAM, eu só quero que esse Cristo de braços abertos me dê um abraço. Ou que alguém me ofereça um pudim de graça. Ou melhor: quero voltar a ser escrota. Quero voltar a não sentir medo de nada. Quero voltar a dormir embaixo das borboletas.