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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Mais um dia daqueles

O peso da mão do meu namorado acordou diferente naquele dia. O que era aquilo que ele estava fazendo em mim? Carinho? Sai, me larga, não tá vendo que você está ensebando toda a minha escova e desarranjando o meu cabelo? Justo o meu cabelo. Você sabe quanto tempo leva para a franja lateral ficar do jeito que eu gosto? Você sabe o trabalho que dá ter um corte de cabelo com franja lateral? Ou você toma todo o cuidado do mundo ou acorda a cara do Chitãozinho. Que beijo no pescoço o quê? Fica aquele cheiro de cuspe depois, um horror. Ele levanta da cama bufando. Muito mais difícil do que comer uma mulher difícil é comer uma mulher num dia difícil. Os meus seios ficam lindos quando estou para menstruar, mas dessa vez ele toma um banho frio para espantar outro tipo de desejo, o de me espancar. É incontrolável te odiar hoje, meu amor, dá para entender, querido? É incontrolável não ser irônica hoje, chuchu. Na academia reparo em todas as bundas duras e fico tentando adivinhar o QI das vacas. De tanto olhar para as bundas alheias perco completamente a seqüência dos exercícios, me olho no espelho e vejo uma pata perdida no meio de bundas duras e perfeitas. Concentração, coordenação e amor-próprio inexistem nesses dias. Só há espaço para neuroses, como bundas duras e cabelos lisos. E essa professora maluca, por que fica gritando AULAAA de cinco em cinco minutos? Nós já não estamos aqui, fazendo a porra da aula? Se é para incentivar ela deveria gritar HOMENS, que é o que vamos conseguir com bundas duras. Ou então DINHEIROO, que também anima e é mais fácil conseguir com uma bunda dura. Esqueci os chinelos. Sua puta esquecida de bunda mole, como você pode esquecer o chinelo? Agora vou ter de pisar nesse chão cheio de cabelos, aiaiaiai. Agora você escolhe: ou pisa nesse chão, ou vai trabalhar sem tomar banho. Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três. Sei lá o que fazer, assim como a memória, decisão inexiste nesses dias. Tomo banho odiando o chão que piso, sabendo que assim vou permanecer por mais três dias. No caminho ao trabalho sou tomada por uma intensa ansiedade exagerada, típica desses dias, e tenho a real impressão de que estou parada no mesmo lugar há três horas. Sentindo escorrer pela nuca um suor assassino começo a procurar o culpado pelo trânsito. Quem foi o filho-da-puta que sofreu um acidente e parou com a porra da avenida? Onde está a perua kombi clandestina que quebrou? Tomara que seja apreendida. Cadê o culpado, cadê? Motoqueiros, taxistas, playboys e tias barbeiras, qualquer um pode ser o culpado, todos são culpados. O mundo é culpado. Quero gritar, aumento o rádio. Ah, não, Djavan hoje não vai dar, vou jogar esse CD pela janela. Romance, amor, melação, só tem corno nesse mundo mesmo! Chego ao trabalho. Já entro sem dar bom-dia que é para que todos saibam que hoje não é um bom dia para mexer comigo. Já entro curvada e esbaforida que é para que vejam que estou cansada, não me venham com muito trabalho. Já entro com cara de choro que é para que me papariquem. A carência nesses dias é tão grande que cada célula do seu corpo parece estar vazia, cada ombro ganha cara de muro das lamentações e cada pessoa sentada parece ser um colo gigante para você deitar. Não vai me dar bom-dia estagiária? Não, seu idiota, não vou te dar nada, muito menos bom-dia, desista, cresça, bata uma punheta. Olho os e-mails, sempre a mesma merda: textos utópicos e babacas que acompanham imagens felizes e insuportáveis do image bank, correntes de oração pela paz que não existe e nunca existiu, ex-namorados com saudade (lê-se vontade de dar uma sem grandes investimentos) charges horrorosas da seleção, feia pra cacete, do Brasil, amigas chatas reclamando que estão se sentindo sozinhas depois que acabou a faculdade (elas que são chatas e a culpa é que acabou a faculdade), e nenhum, nenhum e-mail daquele filho-da-puta, o único e-mail que você queria receber, ele que se foda também. Mesa cheia de trabalho, cheia de contas para pagar, nada disso importa, uma espinha imensa nasceu no meio da sua testa, bem no meio, não dá nem para disfarçar com a franja lateral. O celular toca, é ele, ou melhor, é uma proposta de emprego com tudo a que se tem direito, inclusive sexo casual com o mais inteligente e charmoso da agência. Nada disso, é só a minha mãe com todo o seu amor incondicionalmente materno, aquele que é impossível de corresponder, ainda mais nesses dias. Claro que sou grossa com ela, claro que me odeio por isso depois. Almoço cercada de cigarro, as únicas pessoas que combinam com a minha alma nesses dias são as fumantes, reclamonas, estressadas, ansiosas e a um passo da morte. Elas me aturam sem notar que acabaram de exercer a tarefa mais difícil do dia. Volto pra casa chorando, claro que arrumei briga com alguém, não lembro quem foi, mas ele me paga. Claro que fui injustiçada, não lembro por quem, mas tem volta. Claro que ele não me olhou, eu não estava olhando pra ver, mas tenho quase certeza de que fui ignorada. No final do dia um alívio, consigo dormir um pouco mais em paz. Não , não foi a menstruação que chegou, foi o Thirso que saiu, foi eliminado do Big Brother Brasil , agora só falta me livrar da Cida.

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