Me falaram que a da felicidade não pode tomar muito sol e nem receber água todos os dias, mas precisa de luz e de um pouco de água dia sim, dia não. Somo a tudo isso beijinhos, carinhos e palavras ditas baixinhas, perto do caule. Outro dia cheguei ao cúmulo de ninar o vaso, o que meu deu uma baita dor nas costas considerando que a planta, contando com toda a terra, deve pesar uns 18 quilos. A comigo-ninguém-pode é cheia de querer se esconder. E eu respeito isso. Um pouquinho só de sol que recebeu, em uma das folhas, queimou. Conversei com ela ontem, daquele jeito humilde que ela gosta: de joelhos e preocupada. Agora ficou tudo bem, sei disso porque ontem nasceram duas novas folhinhas. Fiquei tão feliz que cantei uma música para ela. Das minhas filhas ela é a menos meiga, mas a mais corajosa. Tenho uma sensação boa de que me protege de alguma coisa ruim. Dessas coisas ruins que a gente nem sabe explicar o que é, mas entram por baixo de nossas portas. Minha cachorra odeia abraço. Mas o que eu faço se sou a pessoa mais feliz do mundo quando ela junta as patinhas atrás do meu pescoço e deita a cabeça no meu ombro? Eu fecho os olhos e imagino que em vez de um cachorro é um nenê lindo usando uma roupinha felpuda. Mas logo um latido ou mesmo uma ameaça de mordida defensiva me tiram a ilusão e volto a me sentir uma idiota: que porra ta acontecendo comigo? Ontem terminei um projeto longo, daqueles que a gente fica meses parindo. A sensação foi incrível. Cada folha que saia da impressora era mais um pedaço do DNA criativo do meu filho. Juntei todo o trabalho e, quando dei conta do que estava fazendo, percebi que estava sentindo o cheiro da nuca das folhas sulfites. Só faltava bater nas costas do papel “chamequinho” pra ver se ele arrotava. Bizarra. Tati, você anda bizarra. Quando um homem olha pra mim, na rua, com aquela cara de “te comia muito”, tenho vontade de gritar “então me faz um filho agora seu merda”. Caguei para todos os homens do mundo que querem me comer sem rastros. E caguei também para os que querem me amar por uns 10 anos até me darem um filho. Eu quero um filho AGORA. Por isso caguei para todos os homens do universo. Já que nenhum homem normal e equilibrado do planeta vai querer me dar um filho agora, caguei pra todos eles. Já faz meses que não vou a festas, baladas ou coisas do tipo. Paro em frente as festas e penso: e por acaso pega bem uma mãe de família, uma mãe de recém nascido, uma grávida de sete meses, pegar essa fila cheia de gente ensebada e entrar nesse inferninho para ficar a noite inteira tendo que me esfragar em desconhecidos para conseguir me locomover? Claro que não! Aí dou meia volta pra casa. Aí chego em casa e fica esse vazio. Não tem filho nenhum nem dentro de mim e nem fora de mim. E caio na risada, depois caio no choro: que porra é essa que ta acontecendo comigo? Eu lá quero filho agora? Óbvio que não. Ainda sou tão nova, ainda tenho tantas viagens para fazer, tantos garotos para namorar, tanto dinheiro para ganhar, tanto trabalho a fazer. Óbvio que não quero um filho agora. Segundos depois acho tudo um lixo. Essas roupas modernas, esse dinheiro guardado, esse dinheiro torrado em roupas modernas e viagens modernas. Esses amigos blasés, esse mundinho das festinhas e baladas. Esses garotos pra namorar e o buraco oco que fica depois. Todo e qualquer trabalho jogado no mundo, sem uma única pessoa pra assistir comigo o meu sucesso ou o meu fracasso e simplesmente sentir amor. Tudo lixo. Lixo. Lixo. Eu só queria uma família. Essa é a verdade. Uma família minha, construída por mim. Cansei de todo mundo e de todos os lugares. Cansei de ser menina, adolescente, jovem. Eu só quero ser mulher, mãe. Cansei de fazer sexo sem amor. Cansei de conquistar os vapores podres que deixam marcas que ninguém vê mas voltam como fantasmas que fedem. Cansei de tudo que não fica, que não engorda, que não frutifica, que não continua. Cansei de fechar a porta sabendo que é mais uma porta que não se abre. Cansei de perder aos poucos a pureza e ganhar aos poucos desespero. O relógio biológico, como dizem, bateu. E isso é bizarro, é engraçado, é louco, é assustador. E eu se fosse homem correria infinitamente de mim. Mas ainda mais bizarro, penso cá eu com meus hormônios que não me deixam pensar, é se assustar com uma pedido tão simples da vida: mais vida. E volto a olhar minha barriga seca no espelho e a me perguntar: eu queria tanto o mundo fora de mim, por que agora quero tanto o mundo dentro de mim?
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