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quarta-feira, 13 de julho de 2011

O menino dos meus olhos

Tantos rapazes passaram pela vida daquela moça que ela acabava indo e vindo, começando e terminando, rindo e chorando sempre, tudo junto e ao mesmo tempo. Acabava não aproveitando muito a emoçãozinha do durante porque sofria pensando no depois; mas aí na hora de chorar pelo depois ela já tinha chorado muito e partia pra mais algum durante assim, sem esquentar muito a cabeça. Foi sempre assim. Desde que ela consegue se lembrar, ou contar, foi assim. Eles aqui ou ali, tanto fazia. Era sempre o mesmo desfecho sem graça para a mesma história repetida. E ela tinha uns 16 anos quando ele apareceu na vida dela. Na época ela mal conseguia diferenciar aquele rapaz de todos os outros e, pra falar bem a verdade, ela só percebeu de quem se tratava dia desses, quando começou a fechar seus olhos antes de dormir e percebeu que a imagem dentro do escuro debaixo das pálpebras dela, era dele. Percebeu que há muito tempo era ele. Percebeu que todos os outros rapazes nunca seriam páreos pra ele porque ele não estava nas coisas que ela via somente, ele estava também - e principalmente - nos olhos dela quando estes estavam fechados. Ninguém competia com ele porque ele estava nela, dentro dela. Só que a vida nunca foi uma grande amiga dessa moça, nesse sentido. Todas as vezes que ela pensava em abrir os olhos e libertar o rapaz especial de dentro dela, a vida insistia em a fazer continuar sonhando. Às vezes era bom sonhar e ela mesma não queria abrir os olhos, mas havia outras vezes que o sonho ia virando pesadelo, ele corria perigo, ela queria acordar, queria tirar ele dali... mas não conseguia. De todos os homens do mundo, ele era o que ela mais admirava. Todas as coisas que ele fazia viravam estórias encantadas na cabeça dela, ele era o príncipe que escalava o castelo, o cavaleiro que ganhava a batalha, a coisa mais brega e mais bonita que ela conseguia pensar sempre, era ele. E ela descobriu que não é vergonha ser brega para ser bonito. Ela estava cagando pra quem a achasse brega. O tempo foi passando e a distância entre ele e a realidade foi diminuindo. Às vezes ela abria os olhos assustada depois do sonho e era como se ele estivesse realmente lá, era como se ela pudesse mesmo sentir o cheiro, a presença. Tantas vezes ela foi dormir contorcida, apertada a si mesma, desejando fundo que no lugar dos travesseiros e das vontades, fosse ele. Ela só queria que fosse ele. Mas não foi. Não dessa vez. Não foi de novo. E ela conta os dias, as horas e os problemas que faltam ser resolvidos pra eles conseguirem finalmente ter o final feliz do conto de fadas. Ela o guardou há muito tempo num lugar muito seguro, que nenhum dos seus namorados de papel da vida real vai conseguir chegar algum dia. Porque eles, os outros, estavam dos olhos pra fora: ela os enxergava, se divertia, tocava, sorria, mas em hipótese alguma os levava para dentro dos olhos dela. De tanto implorar para acordar, então, foi exatamente isso que aconteceu. Só que, por hora, o príncipe cheio de defeitos encantadores ficou lá dentro, lutando pra sair, ainda. E o ritual sagrado segue de noite em noite,numa espera angustiante, mas que um dia vai passar, há de passar. Às vezes uma pessoa ou outra diz a ela que não se pode viver assim, fechando os olhos pras coisas à sua volta. Mas a moça, agora tão esperançosa, não só fecha os olhos como também, tapa os ouvidos. Tantas pessoas passaram por ela, tanta coisa foi dita, tantas promessas que jamais foram cumpridas e ela fica pensando sozinha que, se ela já perdeu tanto tempo com sentimentos de papel, vale a pena - e muito - esperar por alguém que há tanto tempo faz parte da parte mais íntima da sua vida: o seu sonho de ser feliz.

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