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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Para a menina da bolsa furada

Exatamente como você fala nos textos, a festa estava cheia de meninas em série, saltitantes, ignorantes, garotas como todas as garotas. Aí alguém disse meio por alto que você viria, uma menina perguntou se era mesmo a escritora do site e da revista, responderam que era. Lembrei das noites em claro que você me iluminou e estalei os dedos. Você chegou estufando o peito, coisa de mulher insegura, e ao invés de eu perceber seus maravilhosos seios (coisa que por sorte percebi depois) fiquei apenas me perguntando como uma mulher como você poderia ser insegura. Você não me engana, falando alto, pisando firme, sorrindo certa e tendo respostas para tudo, você não me engana quando seus olhos se perdem ao longe e você deseja mais do que tudo ser outra e não sentir mais essa dor. Me apaixonei, perdidamente, não pelo seu decote e nem pelas suas piadas confiantes e enturmadas, me apaixonei exatamente pelo seu olhar de dor. Aquele que você lançou, quando ninguém percebia e tampouco esperava, para o chão, e estralou de leve o pescoço, e esfregou os olhos. A gigante dor que você carrega, mesmo num corpo tão magro e numa alma tão divertida, é o que fez de você a melhor mulher daquela festa. Você é humana e diferente dessa gente robô programada para não sofrer. Tati Bernadi não bebeu a noite toda, ensaiou uma dança debochada e não suportou muito aquele ambiente cheio de gente idiota e comum. Bocejou quando eu lhe ofereci minha bebida e sorriu, com um pouco de pena de si própria e de mim, como se dissesse “respeita a minha dor, não me faça ter que ser simpática” Ainda que o seu perfume seja a coisa mais maravilhosa que já senti em vida, pude também experimentar o gosto amargo e podre do seu coração. Sim, era possível desmontar aquela grande mulher que escrevia coisas incríveis, era possível fazer dela uma menininha com medos. Quis ser esse cara, quis que você estivesse sofrendo por mim. Depois não mais, depois só quis sentar num canto, quieto, perplexo, encantado, e olhar você se despedindo de todos, um a um. Por fim reparei que você tem a cintura mais perfeita que um ser humano pode ter e sua bunda não tem nada do que você diz nos seus textos. Acho que você não faz idéia do quanto é linda, perfeita e única, e isso a torna mais maravilhosa ainda, a torna alguém a ser preenchida. Ainda que fechada, você é um convite para ser amada. E então não senti mais inveja do homem por quem você sofre, senti pena, nojo, senti nada. E passei a desejar ser apenas o homem que você ama, aquele que você, certamente com esse perfil de escritora, já desenhou em seus sonhos. Será que nele cabem o meu nariz grande e a minha mania de berrar quando espirro? Tati pegou sua bolsa molenga e estranha, de uma cor que eu não sei o nome, e quando estava prestes a me abandonar triunfante, deixou cair tudo. A bolsa estava furada. Eu só consegui pensar que você é tão perfeita que seus defeitos nem estão em você, mas nas suas coisas. Desde sábado que eu acordo e durmo dando replay na sua bolsa furada, na sua dança debochada, no seu momento de dor, no seu sorriso que luta para não se entregar, no seu decote, na sua chegada, na sua ida, no seu perfume, no seu sorriso quase arrogante, na sua autosuficiência quase pedindo para ser salva. Antes você era minha escritora predileta, agora virou a minha melhor atriz.

M.F. tem 32 anos, é taurino, escritor, roteirista, cinéfilo, fotógrafo de amigos e tem o nariz mais sexy do mundo

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