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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Trepai-vos

Cresci com a minha mãe dizendo que mulher que só pensa em sexo não é coisa boa. Tantos livros para ler, tantas contas para pagar, tanta tristeza e violência no mundo, tanta coisa séria para pensar…Sinto muito, mamãe. Mas acho que vou te decepcionar. Sabe, fiz uma recapitulação da minha vida e descobri que, apesar de tudo, não passei um segundo da minha existência pensando em outra coisa. Eu nunca comecei cursos ou empregos novos verdadeiramente motivada pelos desafios de uma carreira ou de salários melhores. O que sempre me impulsionou era a pergunta: aqui tem um bom número de homens para quem eu daria? Não? Então não quero. Não que eu fosse dar para todos. No final das contas, apesar de eu adorar a minha personagem que vende o oposto, acabo não dando pra ninguém ou quase ninguém. Mas não há nada melhor do que estar em um ambiente onde isso poderia acontecer. E que atire a primeira pedra o ser humano que não pensa assim. Juro que não é promiscuidade, é apenas a natureza. Sexo é a melhor coisa da vida e ponto final. Quando acabam as chances dele acontecer, partimos para outros ares. Os homens compram carros maiores, as mulheres peitos maiores. Eu simplesmente mudo de emprego ou turminha de amigos. Mas a verdade é que estamos todos pensando em sexo. Até um filme interessante é ainda mais interessante quando alguém quer transar com você porque você achou o filme interessante. Existe fazer a mala feliz se você não tiver ao menos uma esperançazinha de fazer sexo no lugar para onde está indo? Existe acordar cedo para uma reunião, pegar o maior trânsito do mundo, se arrumar minimamente bem, se você não está interessada em fazer um “meting” com alguém desse “meeting”? Sejamos sinceros. Claro, não sou homem e na maioria das vezes, apesar de eu me odiar infinitamente por isso, me apaixono. E sempre imagino o desejado da vez me esperando de gravata borboleta no altar. Sou bobinha. Mas que apesar de tudo isso, eu gosto de dar, e só penso nisso. Ah, isso é verdade. Não consigo ser séria. Certa vez um grupo de amigos me perguntou se eu gostaria de ajudá-los fazendo propaganda sem fins lucrativos para algumas ONGS. Num primeiro momento pensei: trabalhar de graça nem a pau. Depois fui na primeira reunião e constatei: bom, dos sete caras que estão no projeto, eu daria para quatro! Topei na hora e nunca fui tão engajada. Teve uma outra vez também que duas agências de propaganda estavam disputando a minha contratação. Escolhi a que ia me pagar infinitamente menos mas tinha o chefe mais gostoso. Claro! Dinheiro é bom, mas sem sexo não vale de nada. E sorte de quem tem uma boa vida sexual associada a um amor verdadeiro. Essa soma sim é a verdadeira busca da vida. Que caminho de Santiago que nada. Que meditar em cima de uma montanha que nada. Já viu alguém que está super feliz no amor e trepando alucinadamente sumir para encontrar seu verdadeiro eu? Isso é coisa de quem ta na seca ou acabou de levar um pé na bunda. Entre um belo corpo nu e um tronco, só um babaca vai preferir trocar energias com a árvore. O último retiro espiritual que me meti só não morri porque pegava o canal Playboy na televisão do quarto. Mas sabe, mãe. Eu não acho que meu prazer seja tão egoísta quanto você pensa. Eu lembro que uma vez estava caminhando na praia e vi uma bolinha de frescobol atingir uma gordinha mal humorada. Ela esbravejou. Ameaçou bater no moleque. Tocou o terror. E o pai do garotinho, que estava jogando frescobol com ele, apenas gritou: “a senhora não goza não?” Adorei aquilo. Acho que a violência nada mais é que o desejo sexual reprimido. Nada me tira da cabeça que se todos transassem loucamente o mundo seria infinitamente menos louco.

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